segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Cadê o Socialismo?

Estou iniciando uma série de Utopias dos Outros. Gostei tanto dos dois últimos textos que não resisti. O meu título é uma homenagem aos Voluntários da Pátria.

(reproduzido de O Cafezinho)

As Coxinhas, a herpes e o adoecimento do Brasil.




por Tadeu Porto, colunista do Cafezinho
Estava deboas navegando na internet outro dia, quando meu lado “masô” conduziu, no melhor estilo Adam Smith, minha mão para um link que dizia algo do tipo: “manifestantes fazem protesto no hospital onde nasceu neto de Dilma”. O clique do meu dedo foi mais rápido que os neurônios que mandavam parar, sabia que ia me aborrecer com aquilo, e acabei entrando na matéria.
Só de ver a foto dos manifestantes - três coxinhas perdidas como se estivessem em lanchonete de rodoviária - aquilo me deu tanto asco, que minha imunidade abaixou de tal maneira que minha herpes saltou no canto do meu lábio como uma erupção do vulcão Kilauea.
Mas já tinha começado a ler a matéria e fui até fim. Até mesmo porque, queria entender aquilo para ter uma opinião mais embasada e parecer menos ainda com aquelas pessoas da foto.
E me surpreendeu a conclusão que cheguei ao fim da leitura: elas não estavam de todo erradas, pois existe uma lógica interessante no ato delas que não podemos ignorar.
Minha primeira reação foi ficar chateado, pois a herpes já tinha se manifestado e eu teria um trabalho de três dias no mínimo pra acabar com ela e minha pomada tenho quase certeza que estava vencida.
Logo depois, pensei bem com cérebro e coração sintonizados: um dos graves problemas do Brasil, talvez o maior, é ricos terem acesso a saúde melhor do que de pobres. Pior ainda, quando pensamos que temos um pequeno setor com esse privilégio, que, obviamente, numa sociedade pensada para ser ética não deveria existir, concluímos que algo muito errado está acontecendo.
De fato, é ultrajante a filha da Dilma não ser atendida pelo Sistema Único de Saúde. Assim como é um absurdo que a família Marinho, o Neymar, a Ivete Sangalo, o Lemann, a Angélica, também não sejam tratados por um sistema que seja igual para qualquer cidadão. É inadmissível termos uma elite que tenha acesso a um tratamento diferenciado num serviço como a saúde, que é primordial para a manutenção da vida humana.
Fiquei imaginando o Sirio-Libanês, tomado por movimentos sociais reivindicando a qualidade dos serviços deles para o SUS. Sonhei com uma multidão cercando os principais hospitais privados do país e conseguindo, através da mediação e da luta (sem violência, o sonho era meu) , tratamento para milhares de pessoas que hoje sofrem com a falta de saúde (principalmente no estado do Rio, pois estava na minha cabeça uma reportagem sobre a crise nesse setor carioca).
E, de súbito, minha ficha caiu. Esses coxinhas realmente atrasam, e muito, o desenvolvimento nacional. Deveriam usar camisa da Argentina em protestos, se querem seguir alguma lógica como a do futebol. Eu até imagino que muitos têm boa vontade, pois são cidadãos ou cidadãs que trabalham e querem um país melhor (ok, não sei se o modo sonho ainda estava ativado).
A elite brasileira verdadeira, aquela burguesia de pedigree, não encheria uma avenida de manifestações, afinal de contas, em números absolutos e relativos ela é muito pequena. Muitos “verde-amarelos” de hoje, são apenas um reflexo da high society que copia um modelo de relações e convívio feitos para sustentar quem ganhou e ganha privilégios com a exploração de quase todo país.
A perseguição política a um segmento, no nosso caso claramente ao PT (é vergonhoso que as passeatas de direita “anticorrupção” tenham poupado o Cunha), acarreta numa perda da noção verossímil do ambiente que nos cerca. E isso é exatamente o que a elite quer: continuar que façam a perseguição a um inimigo só e a deixem livremente para continuar a exploração do mais pobres que arrumam suas casas, carros, aeronaves, fazendas ou negócios.
No dia que eu ver manifestações para todo político ou empresário que vá à um hospital particular se tratar, incluindo a Presidenta da República, aí sim vou ver com alegria aquela mesma notícia. Sorriso no rosto e tudo! Pego até balde de pipoca pra assistir, se acaso tiver vídeo.
Os coxinhas tem que entender de uma vez por todas que nosso maior inimigo é a desigualdade social e quem trabalha arduamente para que ela não diminua. Não teremos um país justo, e claro também no sentido de igualdade de acesso a bens e serviços, enquanto existir pessoas desesperadas para ter um trabalho por que não tem o mínimo para ter uma vida saudável.
Mas enquanto isso não acontece, eu garanto, essa massa de manobra (frita e com recheio de frango) vai continuar adoecendo o Brasil e achando que tudo é culpa do PT e da ditadura comuno-gay-negro-feminista do politicamente correto que trava qualquer tipo de relação social brasileira. E vão se manifestar, como uma herpes, toda a vez que a democracia abaixar a imunidade.
Da nossa parte, nos resta não abusarmos do aciclovir, mas sim cuidar da nossa saúde. No final, o vírus coxinha estará tão fraco que não vai conseguir se manifestar!
Tadeu Porto é Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF)

A esquerda caviar e o pobre conservador

De César Zanin*

Esquerda caviar é o apodo usado hoje no Brasil para designar quem faz parte das classes mais favorecidas da sociedade e defende o socialismo ou mesmo o progressismo, em oposição ao capitalismo neoliberal ou simplesmente ao conservadorismo.
Muita gente pensa que a expressão foi inventada por algum colunista da Veja, mas já nos anos 80 era usada pelos detratores de Miterrand na França.
Podemos encontrar equivalentes em outras línguas também, o conceito remonta à primeira metade do século XX, talvez até mesmo à segunda metade do XIX.
Depois das manifestações de junho de 2013 e principalmente agora nas atuais eleições presidenciais, os ânimos para o debate e o embate políticos se exaltaram como não acontecia no Brasil nos últimos 30 anos.
A ideia da expressão é desqualificar, no estilo “Fla-Flu”, ou melhor dizendo, “Curíntia-antis”; denotando que os membros da esquerda caviar não são sinceros em suas convicções, uma vez que pregam uma sociedade socialista e, de maneira hipócrita, se beneficiam do sistema capitalista; implicitando que somente os pobres poderiam defender o socialismo com legitimidade.
Resta saber se, para quem acredita nessa ideia, a esquerda caviar seria ardilosa (fingindo ser simpática à causa dos menos favorecidos e ao mesmo tempo perpetuando as diferenças) ou apenas ingênua (desconhecendo que com essa postura poderia perder suas regalias).
Ainda não li o livro do colunista da Veja…
O ponto de partida para isto tudo é uma visão de mundo, de quem acredita nessa ideia de esquerda caviar, onde a sociedade foi, é e será dividida entre classes espertas e classes preguiçosas, favorecidos e desfavorecidos. Onde basicamente seria impossível todos serem ricos e a pobreza ser erradicada.
O medo corrente de aproximadamente metade dos eleitores brasileiros, herdado de um tempo em que não existia sequer isso de socialismo ou capitalismo, sussurra via PiG e costumes “de bem”, que o socialismo malvado da gang dos PeTralhas iria tirar as riquezas das classes favorecidas e dar aos pobres, desrespeitando a legitimidade da propriedade particular e acomodando a sociedade rumo ao atraso e à pobreza generalizada.
É um engano, pois além de estarmos no décimo segundo ano de governo federal do PT e sem maiores turbulências para os ricos (pelo contrário), o socialismo busca a igualdade social, algo bem diferente de empobrecimento geral (vide o mapa da pobreza no mundo da ONU, pela primeira vez na história sem o Brasil nele). Caso o engano em relação aos objetivos do socialismo persista, basta ver como vivem os cidadãos dos países nórdicos e perceber o quão parecidas são as propostas principais de reformas que a Dilma vem tentando colocar em pauta no Brasil.
E também porque ter outros em situação de inferioridade forçada e velada, à nossa disposição sustentando um ambiente em que nossas regalias abundam impedindo a dignidade de outros, olha, isso não pode ser conceito de riqueza; já está claro que, com os avanços da ciência e as novas tecnologias, os recursos atuais disponíveis em nossos ecossistemas seriam mais que suficientes para o bem-estar material de todos os humanos do planeta. Já está claro também que não o poderão ser por tanto tempo assim, visto que população cresce e o planeta, que não cresce, vem sendo cada vez mais estragado.
Eu repudio o consumismo desenfreado, pois gera desperdício e, com os recursos naturais limitados que são, cada vez mais tenho a convicção que deveríamos usar a lógica da ecologia para buscarmos cada vez mais tecnologia com menos desperdício.
Ciência como religião. E isso nada tem a ver com socialismo, tampouco com capitalismo.
Eu sei, estou enveredando por um caminho que poderá ser rotulado por muitos como utopia (inclusive por progressistas), além dos conservadores que tiveram a paciência de ler até aqui provavelmente me rotularem de petralha, mas tudo bem, poderei me aprofundar sobre esse conceito de uma sociedade científico-ecológica em outro texto, por ora voltemos ao tópico da esquerda caviar.
Esquerda caviar é o rico de esquerda, o bem-educado de esquerda, aquele que é visto como incoerente.
O escárnio é tanto que às vezes a própria pessoa chamada de esquerda caviar acaba se enxergando negativamente como tal. Isso causa confusão, alguns resignam-se e tendem a se distanciar da política, outros conseguem transformar a vergonha em reafirmação de conduta.
Já o pobre que elege os mesmos neoliberais conservadores que os mantêm desfavorecidos, esse acaba não sendo visto como incoerente por ninguém, pois a esquerda (seja ela caviar ou não) enxerga que ele é iludido (veja como conquistas suadas tais quais a abolição da escravatura, a CLT, o voto das mulheres etc foram de certa forma “contornadas” pelo modus operandi do capitalismo, mantendo a desigualdade social), e a direita finge que não enxerga incoerência alguma, finge que é assim que tem que ser.
O oposto à esquerda caviar não seria uma direita mortadela, ou uma direita rapadura, afinal Gandhi nunca se definiu como um socialista e, escolher para si a pobreza material, apesar de maravilhosamente louvável, nada tem a ver com socialismo; a meu ver o oposto à esquerda caviar é mesmo o conservador astuto, pobre de espírito, simpatizante do que a Veja publica, isto é, aquele que contribui para que o pobre aceite a pobreza de si próprio e legitime a riqueza de outrem, e principalmente para que ele acredite que a única maneira de se tornar rico é deixando o “time” dos pobres para trás, para então ajudar o “time” dos ricos a perpetuar esse jogo, ou melhor dizendo, jugo.
*César Zanin é tradutor, professor, escritor, produtor e colaborador em Pragmatismo Político

Reproduzido do sítio Pragmatismo Político: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/11/a-esquerda-caviar-e-o-pobre-conservador.html

Para David Bowie

Para David Bowie



Ontem, dia 10 de Janeiro, faleceu David Bowie. Foi relativamente cedo, vítima de câncer. Sentirei falta, sou fã, mas sua obra permanece.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Good people

Pronto. Nada de perguntas fáceis. Uma pergunta bem básica, simples: o que faz uma pessoa ser melhor? Cabe bem num episódio escrito por Douglas Adams, onde um computador gigantesco é construido só para responder a pergunta, e passa milhares de anos calculando.
Não precisa tanto: uma olhada no gúgol e você terá milhares de receitas infalíveis para se tornar uma pessoa melhor, em 3 minutos ou 60 dias. Pode escolher. Está confuso? Eu também.
Alguém mais atento dirá logo: bobagem, resposta simples, Não há resposta. Lógico. Totalmente subjetivo.
Concordo. E volto para minha proposta. Aqui é onde EU respondo às perguntas. Que eu mesmo faço. Afinal, são minhas utopias. Minhas regras.
Todos os seres humanos nascem iguais. ou melhor, nas mesmas condições. Não há como um bebê ser uma pessoa ruim. Então, tudo que um ser humano tem de fazer para ser bom é continuar bom? Acho que sim. Só que isso não é nada fácil. Tudo que um bebê faz é aprender. E aprende qualquer coisa. Parece que as coisas ruins são muito mais numerosas que as boas.
Então, com esse critério simples, chego à seguinte conclusão: pessoas boas são pessoas sábias. Não é pouca coisa. Um mundo cheio de pessoas sábias.
Outra coisa: bilionários não tem como ser boas pessoas. Uma só pessoa possuir tal quantidade de coisas que valham bilhões, não é bom. Vamos supor, então, que alguém nasça já herdeiro de uma fortuna. O que fazer? Dividir. Quer dizer, se tenho tanto assim, não haverá no mundo outros que nada tem? Certamente, muitos.
Pessoas generosas. Pessoas que sabem compartilhar. Onde não houver fortunas, haverá sabedoria.
E por aí vai.
Alguns nomes:

Kurt Vonnegut, jr. Só conheci seus textos. Certamente era uma boa pessoa.




Albert Einstein. Sua contribuição para a nossa compreensão do universo é provavelmente inestimável. Era um sábio.

















Vladimir Ilitch Ulianov. Outro sábio. Por causa dele o mundo mudou de forma drástica. Só estou aqui porque ele esteve lá.




Adoniran Barbosa. Não preciso explicar.




O senhor Francisco Buarque de Hollanda. Este vive. Também dispensa explicação.





Vou tentar lembrar de outros. Tenho muitas coisas para ler. E aprender. Quem sabe, um dia, poderei me considerar um sábio, também. Sonhar é de graça. Utopias.

Tempo de retomar

Tempo de retomar. Por que Utopias? Desde criança, penso no mundo como um lugar para experiências, para explorar. E entender. Crescemos. E vem as distrações mundanas. Esquecemos os sonhos, os desejos puros, e aceitamos os desejos que a sociedade nos impõe. Hoje, eu volto. Volto para os desejos puros da infância. Utopias.
Desejamos um mundo melhor, sempre. Melhor como? Lá atrás, eu dizia, um mundo com menos pessoas. Deve ser uma coisa minha, porque não me incomoda estar só. A quantidade de pessoas no mundo me assusta. Nada posso fazer. Só torcer.



Isto é Bangladesh (fonte: momendereflexao.blogspot.com.br)

Algum tempo atrás, ou muito tempo, li o livro Máfia Verde: o  ambientalismo a serviço do Governo Mundial, de Lyndon LaRouche. Dizia algumas coisas sobre Bangladesh. De como era bom ter uma população tão grande lá. Livro ruim. Mas uma das idéias do livro não é tão ruim. Sobre energia nuclear. Talvez tenha razão. Talvez os ambientalistas (em geral, parece) estejam errando o alvo ao rejeitar totalmente as usinas nucleares. É meio estranho dizer isso depois do acidente de Fukushima, mesmo assim, fico a pensar no assunto.




Voltando ao lugar melhor. Definitivamente, um lugar diferente de Bangladesh. Entendo que, se quero um mundo melhor, significa um mundo com pessoas melhores. Significa menos pessoas. Qualidade, não quantidade. Não ouço muitas pessoas falando disso por aí.

O que são pessoas melhores, então? O que faz uma pessoa ser melhor?
Acho uma boa pergunta, tentarei responder.

Àqueles que, por acaso, esbarram por aqui, peço que relevem a escassez e e a pouca prática. Acredito que posso mudar isso, com persistência. Obrigado.






quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Primeiras utopias

Vou começar com minhas utopias coletivas. Coletivas porque servem para todos. Assim espero.
O meu mundo tem menos pessoas. Bem menos que hoje. Cerca de um sétimo do que temos. Seria o mesmo que em 1800, quando a população era de menos de um bilhão. Um pouco mais que a população atual da África. Menos que a população da Índia.
Só isso, dirão alguns? É, só isso, não preciso de mais. Há uma explicação: nesse mundo todos vivem bem, com o padrão de um europeu médio. Então, para não carregar demais o planeta com as demandas humanas, um bilhão está bom. Imaginem o que um europeu médio consome de recursos. Multipliquem por um bilhão, e aí teremos uma bela carga sobre o planeta. Li em algum lugar que aguentaríamos dois bilhões, nessas mesmas condições, mas acho que um só dá uma boa margem de segurança.
Essa visão, de um mundo "vazio", eu tive quando li pela primeira vez o romance de ficção A Cidade e as Estrelas de Artur Clarke. Clarke sempre foi muito otimista, pelo menos quando era mais novo. Esse romance foi escrito em 1954, a história acontece num futuro muito distante e nosso herói, Alvin, vive numa cidade extremamente tecnológica, Diaspar. Os habitantes de lá tem tudo e não precisam fazer nada. Chato, não? Pois é.
Então, o que me vem à mente quando penso num mundo pouco habitado e que não cresce? Que deve ser muito chato. Mas aí, tenho que pensar mais adiante, um pouco: chato por quê? Se a população não cresce, não quer dizer que o mundo não avança. Se não aumentamos a quantidade, não quer dizer que não podemos melhorar a qualidade. Penso na Europa. A população da Europa não cresce há décadas. Certo, já tem mais de 700 milhões lá, então, é bastante gente. Mas, pelo menos, essa população não cresce.